A Campanha da Fraternidade de 2018 propõe para todos nós a discussão de um tema complexo: a superação da violência. Para tentar dar conta da complexidade da violência – além de denunciar algumas das mais perversas manifestações do fenômeno em nossa sociedade (violência verbal, violência no trânsito, violência doméstica, feminicídio, exploração sexual, tráfico humano, intolerâncias, racismo, etc.) -, os bispos brasileiros destacam os elementos histórico-antropológicos e socioestruturais que fazem da superação da violência um dos mais intrincados desafios da sociedade brasileira. Dentre esses elementos, destaquemos o implemento de uma cultura da negação do outro como um dos fatores que tornam a nossa sociedade uma das mais violentas do mundo.
Se olharmos os dados estatísticos, que longe de serem números frios, ao contrário, revelam a sombra de uma realidade assustadora que, infelizmente, não está longe da porta de nossas casas, verificaremos que o Brasil responde por quase 13% dos assassinatos do planeta (segundo o IPEA, só em 2014, foram 59.627 assassinatos). Sem levarmos em conta outras faces da violência que assola nossa nação, basta esse dado alarmante para reconhecermos que estamos inseridos numa realidade verdadeiramente violenta, o que contrasta com a ideológica construção de uma imagem do Brasil como uma nação cordial, pacífica e tolerante. De fato, não há como deixar de constatar: discórdias, agressividades e intolerâncias são formas cada vez mais explícitas de menosprezo do outro em nosso cotidiano.
A Bíblia, ao estipular: “Não odiarás teu próximo no teu coração […] Não te vingarás nem guardarás rancor dos teus concidadãos. Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,17-18), propõe um caminho para a prevenção e profilaxia da negação do outro e da rejeição das diferenças que geram tantos males em nossa sociedade. A proposta bíblica aponta para o arrefecimento da raiva; para o combate à tendência de retribuir, em escala maior, a maldade de que se foi vítima; por fim, para o amor como via de superação do rancor que envenena os corações. Encontrar meios para colocar em prática essa proposta é um desafio permanente. Inspirada no ideário bíblico que alimenta em nós a utopia da paz, a Campanha da Fraternidade de 2018 assume esse desafio e conclama os cristãos a combaterem a cultura da negação do outro, que está na raiz de tantas expressões de violência presentes em nossa sociedade, mediante o engajamento na construção de uma cultura da empatia calcada na consciência de que não somos adversários, mas irmãos.
Pe. Wanderley Martins da Cunha
Pároco