Paróquia

Paróquia Nossa Senhora de Lourdes (Contagem)

07h

10h
19h
19h30
TERÇO NA GRUTA - PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS

18h

Quinta-Feira anterior á primeira sexta-feira do mês - Adoração ao Santíssimo

20h

Terça-Feira - Grupo de Oração Cristo Libertador

19h30

Segunda-Feira - Terço dos Homens

20h

1ª sexta-feira de cada mês - Missa

19h30

Comunidade Santa Luzia

Domingo
08h30
Sábado
18h
TODO DIA 13 - NOVENA E TERÇO EM HONRA A SANTA LUZIA

19h30

QUINTA-FEIRA ANTERIOR Á PRIMIERA SEXTA-FEIRA DO MÊS - ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO

18h

QUARTA-FEIRA - GRUPO DE ORAÇÃO JESUS MISERICORDIOSO

19h30

1ª sexta-feira de cada mês - Missa

18h

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Entrevista com Frei Fábio

Frei Fábio Lamour Ferreira é o diretor da fraternidade franciscana São Boaventura, presente na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes desde 2016. Em entrevista à Pascom, ele fala um pouco de sua percepção de espiritualidade. Veja a entrevista.

Pascom: O que é espiritualidade para você?

Frei Fábio: Começo dizendo que refletir sobre o tema da espiritualidade hoje é urgente e muito importante, pois, como nos lembra o Papa Francisco, vivemos um momento de profundas crises e desencantos, numa cultura cruel e insensível, que não sabe mais se sensibilizar e nem chorar diante do sofrimento humano. Um mundo que não busca mais a Deus. Portanto falar de espiritualidade hoje é falar de uma experiência de busca profunda de Deus, que é também uma experiência de busca profunda pelo ser humano. Para aprofundar o tema, é necessário que tenhamos algumas referências e, para isso, terei a ajuda de um renomado teólogo brasileiro, grande escritor, reconhecido mundialmente e ex-frade franciscano, que sobre espiritualidade escreveu vários livros: Leonardo Boff. Para ele, a espiritualidade, como o próprio termo indica, mais do que momentos de meditação ou práticas religiosas, tem a ver com a busca do sentido mais profundo da vida e com as respostas que damos a essa busca. A espiritualidade passa por uma prática permanente da vivência do espírito, que se encarna na realidade. Por isso podemos falar de espiritualidade encarnada. Fazemos a prática permanente da vivência do espírito ao nos identificarmos com Cristo, que se encarna neste mundo para iniciar a construção do Reino de Deus, para fazer dele um mundo melhor. Vivemos a espiritualidade encarnada ao nos tornar pessoas melhores, ao tornar-nos sempre mais compassivos, sensíveis, desapegados, amorosos, mais humanitários, mais responsáveis, especialmente na prática da justiça. Esse é o caminho da espiritualidade cristã. Já ouvimos falar de inteligência intelectual e de inteligência emocional, mas talvez devamos também falar de uma inteligência espiritual, que é aquela que nos faz mais solidários e menos indiferentes, que nos abre os olhos para uma realidade de significados novos, num mundo marcado pelo preconceito e pelo ódio. O problema é que essa inteligência pode estar encoberta dentro de nós por uma camada de cinza, que pode ser a cinza do indiferentismo, do consumismo, do machismo e de tantos outros “ismos”. O desafio da espiritualidade é tirar essa cinza, para que possamos ser mais plenamente humanos, mais misericordiosos, mais capazes de amar e perdoar. A espiritualidade como busca do sentido profundo da vida só se concretiza realmente quando faz a passagem da cabeça para o coração. Bem dizia Pascal: “Crer em Deus não é pensar Deus. Crer em Deus é sentir Deus”. E quem sente Deus é o coração. Na cabeça estão nossos conceitos, dogmas, teologias etc. É no coração que mora a profundidade, a esperança de transformação, a mudança da realidade, o encontro verdadeiro com o outro, o sentido profundo de todas as coisas, do sentir-se mergulhado numa fonte inesgotável de vida que é mistério de amor. Essa é a experiência espiritual da fé de Cristo, e deveria ser também a nossa própria experiência espiritual, pessoal e comunitária. A espiritualidade cristã tem elementos de encarnação muito fortes, que marcam e guiam a vida dos cristãos. Um dos elementos mais desafiantes para nós é o de amar o próximo como a si mesmo. Esse desafio nos faz perguntar: quem é o meu próximo. Seguramente, o próximo a que se refere Jesus não é aquele a quem eu devo amar naturalmente: minha família, meus amigos, minha comunidade; mas é justamente, como dizia Francisco de Assis, amar aquele que não é amado, que é rejeitado, e de quem eu devo estar próximo, justamente, porque ninguém mais quer se aproximar. São os invisíveis na sociedade, os zeros econômicos, os perseguidos, os encarcerados, os negros, os indígenas, pessoas que não contam. E fazer opção de se aproximar dessas pessoas pode parecer até escandaloso para alguns. Para o sistema, essas pessoas são escória. Mas a espiritualidade cristã ensina justamente o contrário. Essas pessoas são muito importantes, porque, antes de tudo, são filhas e filhos amados por Deus. Quando somos capazes de entender e agir a partir dessa perspectiva, tornamos capazes de viver uma verdadeira espiritualidade cristã encarnada.

Pascom: Como a Ordem Franciscana vê a espiritualidade em seu meio com relação à Igreja Católica, existe alguma diferença?

Frei Fábio: A espiritualidade franciscana é profundamente enraizada na vivência do Evangelho e no seguimento do Cristo Pobre e Crucificado, especialmente naqueles que são os crucificados e empobrecidos de hoje. No imaginário popular, São Francisco é o santo da pobreza, da paz, da natureza; e esse imaginário está correto em sua intuição. A espiritualidade franciscana tem mesmo um caráter profundamente ecológico, ligado a questões de justiça e de direitos humanos, de paz, de reconciliação e de integridade da Criação. Portanto é uma espiritualidade profundamente encarnada no Cristo que se fez pobre com os pobres e que se solidariza com as lutas dos pobres. Ela é enraizada na espiritualidade cristã católica atual, do Papa Francisco e da Doutrina Social da Igreja, proposta no Concílio Vaticano II.

Pascom: No seu dia a dia, como essa espiritualidade influencia em seus trabalhos franciscanos?

Frei Fábio: Eu procuro viver a espiritualidade como uma totalidade, não a separando da vida cotidiana e das lutas e desafios que se apresentam na sociedade de hoje, que é de buscar vida plena, justa e digna para todos. Em outras palavras, tento viver uma espiritualidade encarnada, sem perder de vista o que afirmava Teilhard de Chardin, extraordinário místico e cientista moderno, de que a tarefa da fé é descobrir esse Deus que está presente em todas as coisas, mas oculto sob mil sinais. Tento descobrir esses sinais de Deus ao meu redor, especialmente os sinais que me levam ao encontro com o outro, com os pobres, com os desafios e crises do mundo hodierno, na esperança de que outro mundo, mais fraterno, justo e igualitário, é possível.